A Escola Estadual Leônidas Alves Ribeiro fica em Rubelita, a 673 km de Belo Horizonte, no Norte de Minas, região historicamente marcada pela vulnerabilidade social. Atendendo a turmas dos anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), os 22 professores da instituição enfrentavam dificuldades para estimular os 366 alunos a buscarem um futuro melhor. Como fazer com que crianças e adolescentes vislumbrassem oportunidades de uma vida diferente da que tiveram seus pais e avós? A resposta foi encontrada no programa ALI Educação Empreendedora, do Sebrae Minas.
A iniciativa estimula o processo de inovação nas escolas mineiras para fortalecer a educação empreendedora como instrumento de transformação. Por meio dela, agentes locais de inovação, especializados na área educacional, atuam junto às instituições de ensino durante um ano, implementando, desenvolvendo e acompanhando ações de educação empreendedora. É papel do agente perceber e explorar oportunidades de alunos e professores trabalharem competências para desenvolver autonomia, protagonismo, potencial criativo, de inovação e ação.
Na escola de Rubelita, um plano de ação foi implementado para trabalhar um ponto crítico: informação. Segundo o diretor Weliton Pereira Loiola, havia desconhecimento sobre o sistema de cotas e programas sociais como Enem, Prouni e Fies, o que levava a uma baixa expectativa quanto às oportunidades. “Precisávamos mostrar aos estudantes que era possível ir muito além quando concluíssem a educação básica e, especialmente, indicar como fazer isso, apresentado opções acessíveis.”
Houve a realização dos workshops Conectando com um Futuro Melhor e Sonhos, Propósitos e Responsabilidades, e do projeto Sorrindo para um Futuro Melhor, com a participação de empreendedores locais e de profissionais liberais. Além disso, em parceria com a empresa SIFsoft Júnior, alunos do curso de bacharelado em Sistemas de Informação do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) propiciaram novos conhecimentos aos alunos, ministrando cursos de informática básica, edição de vídeos e imagens.
A agente ALI Rosanéia Gonçalves aponta o protagonismo do diretor Welinton como grande diferencial na implementação do trabalho. “Ele abraçou o programa e motivou todo o time no propósito de desenvolver a educação empreendedora. Aproveitou as oportunidades de parcerias e conseguiu o engajamento dos professores e alunos, usando a criatividade, com premiações de valorização. Houve verdadeira mudança de mentalidade na Leônidas”, avalia.
Atenção ao potencial
Os impactos do ALI Educação Empreendedora têm crescido ano a ano. Entre 2022 e 2024, 188.400 estudantes e 10 mil professores foram impactados pelo programa. Ao todo, 1.256 escolas de 144 municípios, em todas as regiões de Minas Gerais, foram atendidas.
Para Nádia Cristina Souza Silva, assistente do Sebrae Minas, o ALI tem permitido que a instituição estabeleça um relacionamento mais próximo com as escolas e leve seu conhecimento em educação empreendedora para ser aplicado em sala de aula. “Na implantação do ALI, sempre são analisados os costumes locais e as vocações dos alunos, visando, inicialmente, potencializar as ações já promovidas”, explica Nádia. A aplicação da metodologia abrange, inicialmente, um Diagnóstico de Inovação para mapear ações de tecnologia e inovação que a escola já implementa; o Radar Educação Empreendedora, instrumento de medida que apura o grau de ambiência favorável para a implementação da educação empreendedora nas instituições de ensino; além do uso do uso das ferramentas Análise SWOT e Matriz GUT, para levantar urgências e emergências na escola. “Assim, consegue-se ter um cenário bem claro sobre forças, fraquezas e oportunidades para a educação empreendedora naquele local”.
A assistente relata que o programa vem transformando a realidade em escolas e são inúmeros os casos que mostram o processo de inovação implementado. Como exemplo, ela elenca ações de incentivo e preparo para o acolhimento e acompanhamento de estudantes, de inclusão e reposicionamento da escola como um equipamento de formação cidadã e de pertencimento à comunidade. “Não podemos deixar de mencionar, também, as melhorias dos indicadores educacionais e a abertura de parcerias que conectaram escolas aos espaços públicos. Vários parceiros estratégicos incentivaram os estudantes em relação à sua formação e à continuidade dos estudos após conclusão do ensino básico”, ressalta Nádia Cristina.
Mitos superados
Em dois anos de atividades do programa ALI, foi possível identificar que a educação empreendedora ainda é pouco conhecida por grande parte das escolas. Não há clareza sobre o propósito real do empreendedorismo e sobre os benefícios que podem ser gerados para o ensino escolar. Na cidade de Januária, no norte de Minas, por exemplo, o ALI proporcionou uma nova visão sobre as possibilidades geradas pela inovação das práticas pedagógicas na Escola Municipal Dr. Roberto Monteiro da Fonseca. A instituição atende a 120 alunos, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, com idades entre 6 e 11 anos. “Havia um preconceito de que a educação empreendedora seria ensinar o aluno a vender chup-chup, balas, sendo que não é nada disso. Agora, todos entenderam o que é gerar experiências, estimular a criatividade e a inovação e auxiliar na construção de projetos de vida”, relata a agente local de inovação Patrícia Correia.
A instituição de ensino passou por grandes mudanças a partir do trabalho, a maioria inspirada pelos alunos. Um dos projetos, o Turista por um dia, envolveu as crianças em uma análise de cada espaço da escola, atuando como uma espécie de guias de turismo. Assim, surgiram ideias para o aproveitamento de ambientes anteriormente inutilizados. Em seguida, foram firmadas parcerias com órgãos externos para a viabilização dos novos projetos: a Horta Geométrica (com canteiros em formato de figuras geométricas, para ensino das disciplinas de Ciências e Matemática); a Gibiteca (um local para leitura e estudos que contou, inclusive, com criação de uma mascote da turma, a tartaruga Cloe), além do Mercadinho de Comportamento, iniciativa que trabalhou planejamento financeiro e aprendizado dos alunos sobre compras e vendas. “Houve muita mudança e um novo olhar para o que já tínhamos. Houve a transformação completa de ambientes que já estavam lá e foram totalmente ressignificados”, diz Itamar Alves, diretor da escola.
Protagonismo
Com 346 alunos e 43 professores dos ensinos Fundamental e Médio, a Escola Estadual Mestra Bezinha Gandra, em Itamarandiba, participou do Programa ALI no ano de 2023. A parceria entre Sebrae Minas e escola foi tão satisfatória que as atividades tiveram continuidade após as intervenções do ALI. “Desde o início, os gestores da escola compreenderam bem a importância da educação empreendedora para uma mudança de mentalidade dos seus estudantes e profissionais de educação. Assim, foi mais fácil conseguir o engajamento de todos, provocando uma mudança no pensar em como transformar realidades a partir do protagonismo de cada um”, explica a agente local de inovação Maria Sirlene da Cruz.
O plano de ação da escola foi conectado ao projeto integrador já existente, que buscava motivar os alunos e despertá-los para uma mudança de mentalidade em relação ao futuro. Várias iniciativas foram promovidas. Para alunos do Ensino Profissionalizante Técnico em Agropecuária, foram realizadas oficinas do Fator S Agita, uma capacitação imersiva de ideação de negócios e aceleração de ideias, além do curso de Gestão Rural. Para os estudantes do Ensino Médio, foram promovidos a oficina de Educação Financeira e o curso Crescendo e Empreendendo. Para os educadores, o Seminário de Educação Empreendedora trabalhou os temas Programação Neurolinguística na Educação e Oportunidades de um Mundo Digital. Segundo o vice-diretor, Fernando Roberto do Carmo, após o ALI, alunos e professores ficaram mais motivados, a escola buscou novos parceiros e fortaleceu parcerias com as instituições locais. Além disso, a instituição conseguiu aprovar o segundo curso Técnico em Agropecuária. “Estamos colhendo os frutos do desenvolvimento do comportamento empreendedor nos alunos. O programa do Sebrae Minas abriu muitas portas, por exemplo, a nossa escola hoje é a única em Itamarandiba que está concorrendo a duas vagas para bolsa de intercâmbio de alunos no exterior, em um programa do governo de Minas”, comemora Fernando.